Luiz Felipe Rodrigues – advogado | 02/02/2025
Com a extensa lista de super-heróis, novos escritores, compra de novas editoras, aliados a uma longa história no mercado editorial de quadrinhos, ao longo de sua existência a editora DC Comics criou diversos universos, onde cada um guardava uma narrativa particular: Superman idoso? Maligno? Filha do Batman? Terra-1? Terra-2? Terra-S?
O multiverso DC sofre com a fragmentação caótica das realidades paralelas, gerando confusão e conflitos. Para resolver a crise, em 1985 houve um esforço monumental de reorganização das linhas temporais e fusão das diversas Terras em uma única realidade coerente. Essa tentativa de harmonização visava acabar com contradições e inconsistências, criando uma ordem narrativa.
Resumidamente, esse movimento da editora teve um grande objetivo: destruir todas as realidades paralelas, criando uma linha editorial que unificasse as linhas temporais e eliminasse as contradições, garantindo uma consistência cronológica e reduzindo a dificuldade dos leitores em acompanhar as histórias.
O Direito atual vive uma situação que lembra o caos multiversal da DC. A globalização, o avanço tecnológico e a multiplicidade de fontes jurídicas (tratados internacionais, leis locais, jurisprudências conflitantes) tornaram o sistema jurídico fragmentado. Essa complexidade gera desafios para encontrar coerência e estabilidade na aplicação das normas.
Ora, quid iuris? Meu direito está nos enunciados? Súmulas? Lei complementar? Ordinária? Portaria? Tratado? Princípio implícito? Interpretações extensivas?
Dworkin propunha o Direito como um “romance em cadeia”, em que cada decisão judicial é como um capítulo escrito por um novo autor, mas sempre respeitando a continuidade narrativa anterior. Contudo, com a crescente pluralidade e fragmentação do Direito, há uma espécie de “quebra” desse romance. Normas conflitantes e interpretações divergentes dificultam a construção de uma narrativa jurídica contínua e coerente.
Assim como a Crise nas Infinitas Terras buscou restaurar uma narrativa coesa no multiverso, os juristas modernos precisam trabalhar para restabelecer uma certa harmonia jurídica, encontrando formas de integrar decisões e normas aparentemente contraditórias. A “quebra” do romance em cadeia não significa o fim do Direito, mas aponta para a necessidade de novas estratégias interpretativas.
Dessa forma, tanto o universo DC quanto o Direito enfrentam o desafio de transformar o caos em uma narrativa coerente — cada qual buscando restaurar um equilíbrio multiversal dentro de seus próprios contextos.